A comunicação científica enfrenta frequentemente o desafio de tornar conteúdos complexos acessíveis e atrativos para um público diverso, incluindo pessoas leigas. Mesmo entre acadêmicos, a leitura de um artigo pode ser enfadonha e cansativa.
Partindo dessa visão, métodos de storytelling têm sido usados como soluções eficazes para transformar artigos em narrativas envolventes, sem sacrificar a precisão e a profundidade das informações.
Storytelling, ou a arte de contar histórias, é uma ferramenta poderosa para transmitir informações de maneira que ressoe emocionalmente no público. Mas será que esta técnica tem a capacidade de salvar a comunicação científica de ser tragada por si mesma?
Pesquisas revelam que as pessoas tendem a lembrar mais de informações apresentadas em formato de história do que em modelo puramente expositivo. Isso ocorre porque as histórias ativam partes do cérebro associadas a emoções e memórias, criando conexões mais fortes e duradouras.
Na ciência, onde os artigos podem ser densos e difíceis de entender, este processo leva a pelo menos três benefícios:
Em primeiro lugar, a storytelling facilita a compreensão. Ao estruturar informações complexas em uma narrativa coesa, ela simplifica conceitos e os torna mais digestíveis. Da mesma forma, aumenta o engajamento, afinal, histórias capturam a atenção dos leitores e mantêm seu interesse por mais tempo.
Outro ponto positivo da ferramenta é a promoção da memorização, pois informações apresentadas em forma de histórias são mais facilmente lembradas do que dados apresentados de maneira seca.
Técnicas para artigos científicos
1 – Estrutura narrativa. O modelo clássico (início, meio e fim) pode ser aplicado aos artigos científicos para criar uma progressão lógica e atraente. Esta técnica envolve: Introdução – Apresenta o problema ou questão de pesquisa, contextualizando o leitor. Desenvolvimento – Descreve métodos e resultados, conduzindo o leitor através do processo de descoberta. Conclusão – Resume os achados e discute suas implicações, encerrando a narrativa com clareza.
2 – Personificação. Incorporar elementos humanos, como histórias de pacientes ou relatos de pesquisadores, pode tornar a ciência mais relacionável. Personificar a pesquisa cria uma conexão emocional com o leitor.
3 – Analogias e metáforas. Usar analogias e metáforas facilita a explicação de conceitos complexos em termos mais familiares. Por exemplo, comparar o funcionamento de uma célula a uma fábrica pode tornar a descrição mais visual e compreensível.
4 – Suspense e surpresa. Introduzir elementos de suspense e surpresa colabora para manter o interesse do leitor. Revelações graduais de descobertas ou a resolução de um enigma científico podem prender a atenção do público.
Casos
The immortal life of Henrietta Lacks (A vida imortal de Henrietta Lacks), de Rebecca Skloot. Este livro é um exemplo clássico de como a storytelling pode transformar a ciência. A autora narra a história de Henrietta Lacks (1920–1951) e suas células HeLa, combinando fatos científicos com uma narrativa emocionante sobre a vida e o impacto de Lacks – descendente de escravos nascida em uma fazenda de tabaco, no interior do estado da Virgínia – na medicina. Este caso ilustra como uma abordagem narrativa pode alcançar um público amplo e sensibilizar sobre questões éticas na pesquisa científica.
The emperor of all maladies (O imperador de todos os males), de Siddhartha Mukherjee. O oncologista e escritor indo-americano utiliza técnicas de storytelling para traçar a história do câncer. Ele mistura ciência com histórias pessoais de pacientes, criando uma narrativa envolvente que explora tanto os aspectos técnicos quanto emocionais da doença. Em 2011, este livro foi o vencedor do Prêmio Pulitzer, demonstrando o poder da storytelling na ciência.
Integrar técnicas de storytelling na comunicação científica torna os artigos mais atraentes e amplia o alcance e o impacto da pesquisa. Por meio de estruturas narrativas coesas, personificação, analogias e elementos de suspense, é possível transformar informações complexas em narrativas cativantes.
A storytelling não compromete a precisão científica, mas enriquece a compreensão e o engajamento do público. Adotar essa abordagem pode ser um diferencial crucial para pesquisadores que desejam comunicar para a sociedade suas descobertas de manceira mais eficaz e impactante.
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