Os processos descritos no título deste artigo têm se destacado entre as diversas estratégias utilizadas pelos acadêmicos para fortalecer o desenvolvimento da pesquisa científica.
À medida que a produção de conhecimento se torna mais colaborativa e globalizada, a capacidade de acessar, reutilizar e compartilhar dados também passa a ser ainda mais significativa, de modo a garantir a transparência, a reprodutibilidade e a inovação.
Muitos são os benefícios da integração de dados suplementares nos artigos científicos, bem como o papel dos repositórios de dados abertos.
Dados suplementares, que frequentemente acompanham os artigos, são informações adicionais que complementam os resultados principais da pesquisa. Tais subsídios podem incluir conjuntos de dados brutos, algoritmos, figuras ampliadas, tabelas detalhadas ou descrições de metodologias. Sua inclusão em publicações tem gerado uma série de benefícios fundamentais para a ciência:
Transparência e reprodutibilidade: A integração de dados suplementares proporciona uma maior transparência nos métodos e resultados, permitindo que outros pesquisadores verifiquem e reproduzam os experimentos. A falta de reprodutibilidade é uma preocupação crítica em várias disciplinas científicas.
Estudo da revista Nature revelou que 70% dos pesquisadores de áreas como biomedicina e psicologia não conseguiram replicar os experimentos publicados em seus campos. A disponibilização de dados suplementares pode mitigar essa crise ao permitir uma análise mais rigorosa e detalhada dos métodos e resultados apresentados.
Inovação e reutilização de dados: Ao incluir elementos suplementares, os pesquisadores possibilitam que outros estudiosos reutilizem essas informações para conduzir novas análises ou estudos comparativos. Isso pode abrir caminhos para novas descobertas, como destacou um estudo do Journal of Clinical Epidemiology, o qual estimou que até 65% dos dados gerados em estudos biomédicos poderiam ser reutilizados para responder a perguntas diferentes das abordadas no estudo original.
Fortalecimento da colaboração científica: Dados suplementares também facilitam colaborações entre pesquisadores de diferentes áreas, uma vez que tornam acessíveis informações que podem ser integradas em análises interdisciplinares. Abre-se, assim, caminho para a convergência de diferentes disciplinas para resolver problemas complexos.
Valorização dos dados produzidos: Quando os dados suplementares são incorporados a um artigo, eles deixam de ser meros subprodutos do processo de pesquisa e se tornam elementos centrais para a validação dos resultados, a visibilidade dos dados e o aumento do volume de citações adicionais.
Impacto dos repositórios
Cada vez mais utilizados, os repositórios de dados abertos são plataformas digitais onde pesquisadores podem armazenar, compartilhar e acessar conjuntos de dados de forma pública e gratuita. Repositórios como o Dryad, Figshare e o Zenodo tornaram-se ferramentas essenciais para a gestão e disseminação de dados científicos. A adoção crescente desses repositórios transformou a forma como a ciência é conduzida e avaliada. Muitas são as vantagens:
Acesso global ao conhecimento: Repositórios abertos democratizam o acesso a dados científicos, permitindo que pesquisadores de todo o mundo — inclusive de regiões com menos recursos financeiros ou institucionais — tenham acesso a dados de ponta. Levantamento da Harvard Library destacou que os repositórios de dados abertos estão desempenhando um papel decisivo na redução das barreiras de acesso à pesquisa científica.
Promoção da reprodutibilidade e confiabilidade: Ao fornecer acesso livre a conjuntos de dados, os repositórios abertos incentivam a verificação independente e a replicação dos resultados de pesquisas. A crise de reprodutibilidade pode ser atenuada com o uso de dados disponíveis publicamente, uma vez que outros grupos de pesquisa podem auditar e validar os achados originais.
Progresso científico: O compartilhamento aberto de dados permite que os pesquisadores avancem rapidamente, sem a necessidade de duplicar a coleta de dados. Um exemplo notável é o campo da genômica, onde o repositório de dados de sequências genéticas GenBank tem acelerado a descoberta de novos genes e a compreensão de doenças complexas, como o câncer.
Visibilidade e impacto das pesquisas: Publicar dados em repositórios abertos pode aumentar a visibilidade do trabalho. Estudo publicado pela Nature Communications demonstrou que artigos vinculados a dados em repositórios abertos têm chance significativamente maior de serem citados em comparação a artigos sem dados abertos.
Impulso à ciência aberta e colaborativa: Os repositórios são fundamentais para o desenvolvimento de ciência aberta, pois visam a criação de um ambiente mais colaborativo e transparente na pesquisa. O European Open Science Cloud (EOSC), por exemplo, é uma iniciativa que objetiva criar um ambiente de dados interconectado e acessível para pesquisadores europeus.
Desafios
Apesar dos claros benefícios, a integração de dados suplementares e o uso de repositórios de dados abertos ainda enfrentam desafios. A falta de padronização na apresentação e no compartilhamento de dados, as questões de privacidade (especialmente em áreas como saúde e genética) e a resistência cultural ao compartilhamento de informações são barreiras significativas.
No entanto, iniciativas como o FAIR Principles (Findable, Accessible, Interoperable, and Reusable), que promovem boas práticas no gerenciamento de dados, estão se expandindo para mitigar esses desafios.
A expectativa é que, à medida que essas práticas se tornem mais comuns e regulamentadas por políticas de agências financiadoras e periódicos científicos, a ciência caminhe para um futuro mais aberto, colaborativo e eficiente.
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(*) Fundada em 2000, a Zeppelini Publishers atua no segmento editorial técnico e científico, atendendo empresas e organizações e desenvolvendo estratégias para todas as áreas da produção de publicações impressas e online.
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