Os pré-prints representam uma mudança paradigmática na velocidade da comunicação científica, uma vez que moldaram a maneira como as descobertas são divulgadas. Disponibilizados antes da revisão por pares, esses manuscritos proporcionam uma plataforma imediata para a disseminação de artigos.
Entretanto, essa mesma celeridade pode ser uma espada de dois gumes, levantando uma série de considerações éticas que devem ser cuidadosamente ponderadas por autores e editores. Uma dessas considerações está no fato de que os pré-prints estão sujeitos a mudanças significativas após a revisão crítica.
Isso implica que as informações contidas nos manuscritos ainda não foram validadas pela comunidade científica, o que pode gerar um impacto direto na forma como o conhecimento é percebido e utilizado.
Para autores, a decisão de publicar um pré-print deve ser acompanhada de um senso profundo de responsabilidade ética, pois ao disponibilizarem dados que não foram ainda escrutinados pelos seus pares, eles estão, de certa forma, influenciando o diálogo científico em uma etapa muito preliminar.
A responsabilidade ética dos autores é ainda mais crítica em áreas como a medicina e a saúde pública, onde a publicação de resultados não verificados pode ter consequências significativas. Resultados preliminares, se interpretados de maneira descontextualizada ou sem a devida cautela, podem gerar pânico, alimentar desinformação ou levar a decisões clínicas inadequadas. Portanto, ao publicar pré-prints, os autores devem fazê-lo com clareza e transparência, destacando a possibilidade de revisão e correção.
Além disso, deve-se evitar o uso de linguagem sensacionalista ou a apresentação dos dados como conclusivos, para não induzir ao erro tanto a comunidade científica quanto o público.
Outro ponto fundamental a ser considerado é o impacto que os pré-prints podem ter sobre a integridade da ciência. O processo tradicional de revisão por pares serve como um filtro que, embora não infalível, ajuda a garantir que os resultados apresentados ao público sejam robustos e confiáveis.
Sem esse filtro, os pré-prints podem ser vulneráveis a erros metodológicos, interpretações equivocadas ou mesmo fraudes, que só serão identificadas mais tarde, após a publicação formal. Este cenário coloca um peso adicional sobre os autores, que devem estar cientes de que sua reputação e credibilidade estão em jogo ao optar por esse caminho.
Papel dos editores
Os editores desempenham um papel essencial na orientação de práticas éticas na publicação de pré-prints. Eles têm a responsabilidade de estabelecer diretrizes claras para a submissão desses manuscritos, incluindo a exigência de que o status do artigo seja descrito de forma explícita. Isso pode incluir etiquetas como “dados preliminares”, “não revisado por pares” ou “sujeito a alterações”, para informar claramente sobre a natureza do conteúdo que estão acessando.
Além disso, os editores podem promover a transparência e a reprodutibilidade científica, incentivando os autores a disponibilizarem dados, códigos e métodos completos com seus pré-prints. Essa prática não só aumenta a confiança nos resultados apresentados, mas também facilita a validação independente, que é um pilar fundamental da ciência.
Da mesma maneira, a adoção de práticas como o uso de licenças de acesso aberto e a promoção de repositórios públicos para dados, certamente fortalecerá ainda mais a integridade dos pré-prints.
Autores e editores, por sua vez, precisam trabalhar em conjunto, pois este equilíbrio é fundamental para que os pré-prints cumpram seu potencial de acelerar a inovação sem sacrificar a qualidade e a confiança que são as bases da ciência.
Por fim, é importante reconhecer que a ética na publicação de pré-prints não é uma questão estática, mas dinâmica, que exigirá adaptação contínua à medida que a comunidade científica se familiariza com essa nova ferramenta.
Com o aumento da aceitação e utilização desses manuscritos, novas diretrizes e padrões éticos provavelmente surgirão, moldados por debates contínuos e pela experiência acumulada.
Somente com um compromisso inabalável com a ética garantiremos que essa revolução na comunicação científica continue a beneficiar a humanidade, promovendo novas descobertas e inovações sem comprometer os valores essenciais da ciência.
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