Analogia emprestada das ciências naturais, a “ecologia” dos periódicos científicos oferece uma perspectiva intrigante sobre as interações entre revistas e seus ecossistemas de citação.
Assim como os organismos vivos em um ecossistema natural, os periódicos científicos coexistem, competem e cooperam, influenciando uns aos outros de maneiras complexas e interdependentes.
Esta análise se concentra nas interações entre diferentes periódicos e seus ecossistemas de citação, além dos modelos de coevolução entre revistas de diferentes áreas do conhecimento.
Os ecossistemas de citação representam um dos aspectos mais visíveis e mensuráveis dos intercâmbios entre periódicos. Diferentes estudos destacam que as citações funcionam como um mecanismo de conexão entre diferentes trabalhos científicos, criando redes de conhecimento que transcendem fronteiras disciplinares.
Os periódicos, ao publicar artigos que citam e são citados por outros, estabelecem relações simbióticas que podem ser analisadas em termos de ecossistemas.
Por exemplo, um periódico de alto impacto em uma disciplina específica pode servir como um “ponto de referência” ou “nó central” em seu ecossistema de citação. A influência desse periódico se espalha por meio de citações, afetando tanto publicações de áreas correlatas quanto de campos mais distantes. Isso cria uma rede de interações onde a qualidade e a reputação de um periódico podem impactar significativamente outras publicações.
Interações competitivas e cooperativas
As interações entre periódicos não são apenas competitivas, mas também cooperativas. A competição é evidente na busca por submissões de alta qualidade, visibilidade e fator de impacto, tão cruciais para a sobrevivência e a relevância de um periódico.
No entanto, há também um elemento de cooperação, especialmente visível em práticas como a cocitação e a publicação de edições especiais colaborativas.
A cocitação, em que dois ou mais periódicos são frequentemente citados juntos em artigos, sugere uma relação de complementaridade e cooperação intelectual. Estudos mostram que a análise de cocitação pode revelar clusters de pesquisa e padrões de colaboração, essenciais para o avanço do conhecimento em determinadas áreas.
Além disso, edições especiais colaborativas, onde vários periódicos trabalham juntos para publicar pesquisas em torno de um tema específico, exemplificam a cooperação. Essas colaborações não apenas aumentam a visibilidade das revistas envolvidas, mas também promovem a interdisciplinaridade, ampliando o escopo e o impacto da pesquisa publicada.
Modelos de coevolução
A coevolução entre revistas de diferentes áreas do conhecimento é um fenômeno fascinante que reflete a natureza dinâmica e interconectada da produção científica. Ela pode ser entendida como o processo pelo qual periódicos de diferentes disciplinas influenciam e adaptam-se mutuamente ao longo do tempo, levando a mudanças em suas políticas editoriais, escopo e impacto.
Um exemplo claro de coevolução pode ser observado na relação entre periódicos de biotecnologia e de ética. O crescimento da pesquisa em biotecnologia tem levantado questões éticas significativas, resultando na emergência e evolução de periódicos focados em ética.
Esses periódicos, por sua vez, influenciam os de biotecnologia ao estabelecer padrões éticos que devem ser seguidos para a publicação de pesquisas. Esse processo de influência mútua reflete um modelo de coevolução onde o avanço em uma área (biotecnologia) impulsiona mudanças e desenvolvimento em outra (ética), e vice-versa.
Para ilustrar esses conceitos, consideremos dois estudos de caso: a coevolução entre periódicos de ciências ambientais e ciências sociais, e entre os de saúde pública e tecnologia da informação.
A interação entre periódicos de ciências ambientais e ciências sociais exemplifica como disciplinas aparentemente distintas podem coevoluir. Com a crescente conscientização sobre as mudanças climáticas, periódicos de ciências ambientais começaram a incorporar aspectos sociais em suas pesquisas.
Isso levou a uma maior colaboração com periódicos de ciências sociais, que exploram os impactos sociais e econômicos das mudanças ambientais. A coevolução aqui é evidente na forma como as pesquisas em ciências ambientais são cada vez mais influenciadas por perspectivas sociais, e como as ciências sociais incorporam dados e metodologias das ciências ambientais.
Outro exemplo é a coevolução entre periódicos de saúde pública e tecnologia da informação. A digitalização dos sistemas de saúde e o uso crescente de big data e inteligência artificial na saúde pública têm promovido uma relação simbiótica entre essas disciplinas.
Periódicos de saúde pública agora publicam pesquisas sobre a aplicação de tecnologias avançadas em epidemiologia, vigilância sanitária e gestão de saúde. Simultaneamente, periódicos de tecnologia da informação exploram novas fronteiras ao aplicar suas inovações em contextos de saúde pública. Esse processo de coevolução enriquece ambas as áreas e gera novas oportunidades para avanços científicos significativos.
A “ecologia” dos periódicos científicos é uma rede complexa de interações competitivas e cooperativas, onde os ecossistemas de citação desempenham um papel crucial.
A análise dessas interações revela como periódicos de diferentes disciplinas coevoluem, adaptando-se e influenciando-se mutuamente. Compreender essas dinâmicas é essencial para pesquisadores, editores e políticas científicas, pois permite a promoção de um ambiente acadêmico mais colaborativo e interdisciplinar. Estudar esse fenômeno, portanto, não apenas ilumina as interações atuais, mas também fornece ideias valiosas para o desenvolvimento da produção científica global.
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