O DOI, ou Digital Object Identifier, tornou-se, nas últimas duas décadas, um elemento quase incontornável no universo das publicações científicas. Mais do que um simples “código” atribuído a um artigo, ele é a chave que garante persistência, rastreabilidade e integração com sistemas de indexação e métricas acadêmicas em escala global.
Mas por trás dessa “marcação” digital há um ecossistema complexo, caracterizado por custos fixos e variáveis, modelos de negócios que favorecem determinados atores e uma estrutura de governança que, se não for cuidadosamente observada, pode aprofundar desigualdades no cenário editorial.
O DOI é um padrão internacional (ISO) mantido pela International DOI Foundation (IDF) e operado por agências de registro, que oferecem o serviço de atribuição e gerenciamento de identificadores. No campo dos periódicos acadêmicos, duas agências concentram grande parte do mercado: a Crossref e a DataCite. Ambas cobram taxas anuais de associação e tarifas por cada DOI registrado, variando conforme o tipo de membro, o volume de registros e, em alguns casos, a localização geográfica ou o perfil socioeconômico do país.
À primeira vista, os valores podem parecer modestos, especialmente para grandes publishers. Uma taxa anual de algumas centenas de dólares, acrescida de aproximadamente um dólar por DOI, pode ser facilmente absorvida quando se publica milhares de artigos por ano.
No entanto, para periódicos pequenos, independentes ou com produção limitada, o custo fixo pesa de forma desproporcional: a taxa anual representa uma parcela significativa do orçamento e o custo unitário por artigo dispara quando o volume é baixo.
Além disso, há custos indiretos que raramente aparecem nas planilhas — tempo de equipe para preparar e depositar metadados, adequação de sistemas de gestão editorial, integração técnica e eventual contratação de serviços complementares, como ferramentas de verificação de similaridade.
A assimetria não se limita à questão financeira. Grandes grupos editoriais, que operam em escala e dispõem de equipes técnicas robustas, conseguem integrar o depósito de DOIs a fluxos totalmente automatizados, mantendo metadados ricos e atualizados.
Já periódicos menores, muitas vezes geridos por quadros reduzidos e dependentes de trabalho voluntário, enfrentam maior dificuldade em manter a regularidade e a qualidade desses depósitos — o que pode impactar diretamente a visibilidade dos artigos, mesmo quando possuem DOI.
Brasil: um caso particular
Por aqui, plataformas consolidadas, como a SciELO, funcionam como intermediárias, registrando DOIs para periódicos da rede junto à Crossref e oferecendo suporte técnico e normativo. Essa infraestrutura compartilhada reduz custos e simplifica processos para os periódicos participantes.
Contudo, revistas que atuam fora desses arranjos — por escolha ou por não atenderem aos critérios de inclusão — acabam assumindo integralmente as taxas e a complexidade do processo, ficando em desvantagem competitiva.
Há, felizmente, iniciativas que buscam mitigar essas barreiras. A Crossref, por exemplo, mantém o programa Global Equitable Membership (GEM), que oferece descontos ou isenção de taxas para países de menor renda.
Ainda assim, a elegibilidade é baseada em classificações econômicas internacionais, aspecto que pode deixar de fora muitos periódicos brasileiros — mesmo que operem com orçamentos mínimos, não se enquadrariam nesses critérios.
Nesse cenário, a formação de consórcios, parcerias interinstitucionais ou adesão a redes que já possuem prefixo DOI é uma alternativa prática e de efeito imediato para reduzir custos e dependência.
Concentração de poder
O debate sobre a política do DOI, no entanto, não deve se restringir à busca por economia. Há riscos estratégicos associados à excessiva concentração de poder em poucas agências de registro. Alterações súbitas em modelos tarifários, mudanças de regras de governança ou problemas técnicos podem impactar milhares de periódicos simultaneamente. Além disso, a dependência de um único serviço global, sem contrapesos locais ou regionais, deixa editores vulneráveis a decisões sobre as quais têm pouca influência.
Para equilibrar visibilidade internacional e sustentabilidade, os editores brasileiros precisam pensar em múltiplos níveis de ação. No curto prazo, é fundamental mapear recursos já disponíveis em sua rede institucional, aproveitar programas de equidade e buscar arranjos coletivos. No médio prazo, vale negociar com plataformas e provedores de serviços para que a atribuição de DOIs esteja incluída no pacote, sem custos abusivos.
E, no longo prazo, é necessário articular políticas públicas e iniciativas setoriais que financiem e democratizem o acesso a essa infraestrutura — seja por meio de um hub nacional de registro, seja pelo fortalecimento de redes como a SciELO.
O DOI é uma ferramenta valiosa, mas não é neutra. Ele reflete, em sua arquitetura e em seu modelo de negócios, as mesmas tensões que atravessam todo o ecossistema da comunicação científica: a disputa entre centralização e autonomia, entre inclusão e exclusão, entre a lógica comercial e o interesse público.
DOI acessível
A Zeppelini Publishers reconhece a importância do DOI para assegurar a visibilidade, a rastreabilidade e a credibilidade da produção científica. Por isso, também oferece esse registro aos seus clientes.
“Um ponto que nos diferencia no mercado é que, ao utilizar o nosso DOI, o autor ou a instituição não precisa arcar com as anuidades, como ocorre em outros modelos. Assim, eliminamos a necessidade de pagamentos recorrentes e simplificamos o processo, oferecendo mais economia e praticidade para quem publica conosco”, afirma o CEO da Zeppelini Publishers, Marcio Zeppelini.
“Com planejamento estratégico e ação coordenada, é possível aproveitar todo o potencial do DOI sem comprometer a diversidade e a sustentabilidade dos periódicos científicos brasileiros”, complementa.
_____
(*) Fundada em 2000, a Zeppelini Publishers atua no segmento editorial técnico e científico, atendendo empresas e organizações e desenvolvendo estratégias para todas as áreas da produção de publicações impressas e online.
Foto: Freepik