Por Zeppelini Publishers (*)
A publicação científica tem passado por transformações profundas nas últimas décadas, impulsionada pela digitalização e crescente demanda por transparência e acessibilidade.
Neste cenário, emergiram o acesso aberto (open access), os dados abertos (open data) e o uso de tecnologias emergentes como o blockchain, para garantir a integridade dos dados.
O movimento de acesso aberto, por exemplo, tem suas raízes na década de 1990, mas foi consolidado com a Declaração de Budapeste em 2002. O princípio fundamental do acesso aberto é tornar os resultados de pesquisas financiadas publicamente acessíveis a todos, sem barreiras de assinatura ou pagamento.
Segundo a Unesco, o acesso aberto tem potencial de aumentar a visibilidade e o impacto das pesquisas, promover a equidade no acesso ao conhecimento e acelerar o progresso científico e tecnológico.
Estudos indicam que artigos publicados em acesso aberto são mais citados do que aqueles disponíveis apenas por assinatura. Um estudo da PLoS ONE revelou que artigos de acesso aberto têm uma taxa de citação 18% maior em comparação aos artigos tradicionais.
Além disso, iniciativas como a Plan S, lançada pela cOAlition S, um consórcio de agências de financiamento de pesquisa, exigem que, a partir de 2021, todas as pesquisas financiadas por essas agências sejam publicadas em acesso aberto. Este movimento está forçando tanto editoras quanto pesquisadores a reavaliar suas estratégias de publicação.
Além dos benefícios de visibilidade e citação, o acesso aberto também contribui para a inclusão social e científica. Em muitos países em desenvolvimento, as instituições de pesquisa enfrentam limitações orçamentárias que dificultam a assinatura de revistas científicas.
O acesso aberto permite que pesquisadores, estudantes e profissionais de todas as partes do mundo tenham acesso ao mesmo nível de informação, reduzindo disparidades e promovendo a colaboração global.
Transparência e reprodutibilidade
A disponibilidade de dados abertos é uma extensão natural do acesso aberto. Ela implica que os dados subjacentes às pesquisas também estejam disponíveis gratuitamente, permitindo que outros cientistas possam validar, reproduzir e expandir os estudos originais. A reprodutibilidade é um pilar da ciência e a falta de acesso aos dados tem sido um grande obstáculo nesse sentido.
Pesquisas mostram que uma proporção significativa dos estudos científicos não é reprodutível, o que levanta preocupações sobre a confiabilidade da literatura científica.
Em 2016, um estudo da Nature revelou que mais de 70% dos pesquisadores tentaram e não conseguiram reproduzir os experimentos de outros cientistas, e mais de metade não alcançou reproduzir os seus próprios experimentos. A abertura dos dados pode ajudar a mitigar esse problema, promovendo uma cultura de transparência e colaboração.
Iniciativas como o Open Science Framework (OSF) e o repositório de dados Zenodo, apoiado pelo Cern, oferecem plataformas para que pesquisadores possam compartilhar seus dados de maneira aberta e organizada.
Além disso, muitos periódicos científicos começaram a exigir que os dados subjacentes aos artigos submetidos sejam disponibilizados publicamente, como forma de promover a transparência e a reprodutibilidade.
O conceito de dados abertos também está sendo adotado por governos e instituições de financiamento, que exigem que os dados resultantes de pesquisas financiadas publicamente sejam disponibilizados de forma aberta.
A National Institutes of Health (NIH), por exemplo, implementou uma política de compartilhamento de dados que exige que os pesquisadores submetam um plano de gerenciamento de dados ao solicitar financiamento. Isso não só aumenta a transparência, mas também maximiza o retorno sobre o investimento público em pesquisa científica.
Integridade dos dados
A tecnologia blockchain está ganhando espaço como uma ferramenta para garantir a integridade dos dados científicos. Ela pode fornecer um registro imutável de cada etapa do processo de pesquisa, desde a coleta de dados até a publicação. Isso é particularmente importante em um momento em que a confiança na ciência está sendo desafiada por casos de fake news, fraudes e má conduta.
Um estudo publicado na Frontiers in Blockchain propõe que a tecnologia possa ser usada para criar registros auditáveis de dados de pesquisa, melhorando a transparência e a confiança.
Plataformas como Artifacts e Ledger Protocol estão desenvolvendo soluções para integrar blockchain ao processo de publicação científica, permitindo que cada versão de um documento ou conjunto de dados seja registrada de forma permanente e verificável.
Além disso, o blockchain facilita a atribuição de créditos aos pesquisadores, registrando contribuições individuais de forma transparente e permanente. Isso pode ser particularmente útil em colaborações científicas complexas, em que múltiplos pesquisadores e instituições estão envolvidos.
A integridade dos dados é também importante para a reputação dos cientistas e das instituições envolvidas. Em 2018, um escândalo envolvendo o psicólogo holandês Diederik Stapel, que falsificou dados em pelo menos 55 publicações, destacou a necessidade de sistemas que possam prevenir e detectar fraudes científicas.
Inteligência artificial e automação
Além do blockchain, outras tecnologias emergentes estão começando a impactar a publicação científica. A inteligência artificial (IA) e a automação têm o potencial de acelerar a revisão por pares, a descoberta de pesquisas e a análise de dados científicos.
A IA pode ser utilizada para automatizar a triagem inicial de manuscritos, identificando plágios, verificando a integridade dos dados e avaliando a qualidade metodológica dos estudos.
Além disso, algoritmos podem ser empregados para identificar tendências de pesquisa e conectar pesquisadores com interesses similares, promovendo colaborações e novas descobertas.
Plataformas como a ResearchGate e a Academia.edu já estão utilizando IA para recomendar artigos relevantes aos seus usuários, baseados em suas leituras anteriores e em suas redes de colaboração.
As tendências emergentes na publicação científica estão transformando o modo como o conhecimento é compartilhado e validado. Essas mudanças não apenas democratizam o acesso ao conhecimento, mas também promovem uma cultura de transparência, colaboração e integridade na ciência. A integração de novas tecnologias acelera o progresso científico e torna a pesquisa mais acessível e confiável.
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(*) Fundada em 2000, a Zeppelini Publishers atua no segmento editorial técnico e científico, atendendo empresas e organizações e desenvolvendo estratégias para todas as áreas da produção de publicações impressas e online.
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