A manipulação e a falsificação de dados em pesquisas científicas têm sido desafios contínuos para a comunidade acadêmica em todo o mundo, uma vez que a integridade e a transparência são pilares essenciais para a credibilidade da ciência.
Conhecida por sua elevada segurança, a blockchain afiança não somente a probidade de contratos, mas automatiza a gestão da propriedade intelectual, proporcionando benefícios significativos para os gestores.
Mais bem traduzida como “protocolo de confiança”, segundo o Dicionário Cambridge, blockchain é uma tecnologia de registro distribuído que armazena dados de maneira descentralizada, garantindo que uma vez inseridos, eles não possam ser alterados sem a concordância de todos os participantes da rede.
Ao registrar dados de pesquisa em uma blockchain, assegura-se a imutabilidade e transparência dos mesmos, não podendo ser manipulados, fornecendo um histórico transparente de todas as alterações e adições feitas. Isso é particularmente importante em áreas onde a precisão dos dados é vital, como medicina e meio ambiente.
Estudos mostram que fraudes e manipulações de dados são responsáveis por uma porcentagem significativa de retratações de artigos científicos. E o uso de blockchain pode reduzir drasticamente esses problemas.
Transparência
A transparência proporcionada pela blockchain eleva a confiança entre pesquisadores, instituições financiadoras e o público em geral. Com dados acessíveis e verificáveis, financiadores podem monitorar a utilização de seus recursos em tempo real.
A segurança é ainda mais forte por causa do uso dos contratos inteligentes, programas autoexecutáveis que operam em uma blockchain, onde as condições do acordo são escritas diretamente no código. Eles automatizam e asseguram a gestão de propriedade intelectual, como registro de patentes e direitos autorais, facilitando processos que antes eram burocráticos e sujeitos a falhas humanas.
Exemplos
O uso de blockchain em editoras, universidades e repositórios de dados científicos é um caminho sem volta. Muitas instituições já implementaram essa tecnologia, como a Universidade de Cambridge.
Com ela, a instituição gerencia a propriedade intelectual de suas inovações tecnológicas, garantindo que inventores recebam os devidos créditos e recompensas financeiras, ao mesmo tempo que simplifica o processo de licenciamento de tecnologia para empresas.
Há editoras, por exemplo, que têm explorado blockchain para melhorar a transparência no processo de revisão por pares. Existem testes para registrar e verificar as revisões, criando um registro imutável que pode ser consultado por editores, autores e revisores. Com isso, busca-se permitir a rastreabilidade completa desde a coleta até a publicação.
O Massachusetts Institute of Technology, por exemplo, lançou a iniciativa “MIT Media Lab Digital Certificates”, que utiliza a tecnologia para emitir e verificar certificados acadêmicos, contribuindo para a integridade dos dados de pesquisas.
Já a Universidade de Tsinghua, na China, construiu um centro de pesquisa dedicado à blockchain. Lá, são desenvolvidas aplicações que incluem a preservação de dados de pesquisa e a melhoria da colaboração entre pesquisadores através da autenticidade dos dados.
Baseada em blockchain, a plataforma Publiq oferece um repositório descentralizado para artigos científicos e outras publicações, incluindo até um sistema de recompensa para os autores com base em criptomoedas.
Igualmente, o Orcid está aplicando a integração com blockchain para melhorar a precisão e a confiabilidade dos registros de identificação de pesquisadores. Enquanto isso, a iniciativa de código aberto Blockcerts permite a criação, emissão, visualização e verificação de certificados digitais em blockchain.
Desafios
Apesar dos benefícios, a adoção da blockchain na pesquisa enfrenta desafios, como a integração com sistemas existentes, a resistência à mudança e as questões regulatórias. No entanto, a crescente conscientização sobre a importância da integridade dos dados e a evolução contínua da tecnologia sugerem que esses obstáculos podem ser vencidos.
Para superar essas barreiras, é fundamental que haja uma colaboração entre pesquisadores, instituições e desenvolvedores de tecnologia. Políticas claras e regulamentos adaptados à nova realidade tecnológica são essenciais para facilitar a transição.
Investimentos em capacitação e infraestrutura também são necessários para garantir que todas as partes interessadas possam tirar proveito das vantagens oferecidas pela blockchain.
A adoção da blockchain na integridade da pesquisa está acelerada, e suas implicações são promissoras. Com o avanço contínuo da tecnologia e a superação dos desafios atuais, o futuro aponta para uma era de maior transparência, segurança e eficiência na pesquisa científica.
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